A tendinite patelar, também conhecida como “joelho de saltador”, é uma das lesões mais comuns do joelho, principalmente em esportes de alto impacto como o futebol. Ela afeta diretamente o desempenho do atleta, causa dor e, quando não tratada da forma correta, pode se tornar uma condição crônica.
Neste ebook você vai entender:
– o que é a tendinite patelar;
– porque ela é tão frequente em jogadores de futebol;
– quais são os principais sintomas;
– como diferenciar de outras lesões semelhantes;
– e como funciona o tratamento na fisioterapia esportiva.
Leia até o fim e descubra como prevenir a lesão, acelerar a sua recuperação e voltar ao esporte com mais segurança e bom desempenho.
O que é a tendinite patelar
A tendinite patelar, também conhecida como “joelho de saltador”, é a inflamação do ligamento patelar, responsável por fazer a ligação entre a patela (um osso móvel localizado à frente do fêmur) e a tíbia, na região anterior do joelho.
O ligamento patelar é responsável por executar a tração do osso da perna que, do outro lado, é ativado pelo músculo do quadríceps. Ou seja, toda a parte anterior da coxa se conecta ao tendão patelar. Por isso, ele é essencial para funções como ficar em pé, caminhar e, principalmente, saltar.
Falando de jogadores de futebol mais especificamente, além dos diversos movimentos de salto, como nos cabeceios e eventuais momentos de encontro com o adversário, existe ainda a corrida e a mudança de direção, movimentos que também têm a influência do tendão patelar.</p>
Entenda o que é a tendinite patelar na prática
Como todo tendão, o ligamento patelar é similar a uma corda, que é composta por várias pequenas fibras.
A tendinite patelar ocorre quando há a inflamação dessas fibras.
Uma corda não é capaz de gerar contração, ela não faz um movimento ativo. Para amarrar algo com uma corda manuseamos apenas uma das pontas e puxamos a outra. Ou seja, a corda só faz o movimento de puxar, só transmite tensão.
Não é possível romper a corda fazendo uma tração uniforme e constante. Para rompê-la, é preciso fazer várias trações rápidas e abruptas que vão, aos poucos, desgastando e quebrando as suas fibras.
É justamente nessa forma como a tensão é aplicada que está o ponto-chave da tendinite patelar. Para evitar o desgaste do tendão, a tensão deve ser uniforme.
Se observarmos um tendão inflamado através de um microscópio, veremos que as fibras ficaram mais espaçadas e que existe um edema entre elas. Como foram submetidas a uma tensão irregular, que gerou o seu desgaste, inicia-se um processo inflamatório dessas fibras, criando mais espaço entre elas. Esse espaçamento é consequência da atividade das células inflamatórias.
Quando se fala sobre tendinite, normalmente o foco está no processo inflamatório em si, bem como nesse espaçamento que ocorre entre as fibras. Nosso objetivo é ir além e ajudar você a entender o movimento,
a funcionalidade do joelho e como se dá o tensionamento do tendão em quem joga futebol.
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No movimento de cabeceio, por exemplo, o atleta dá um salto, que é um movimento de aceleração. No movimento de retorno, quando esse atleta cai, é comum vermos um movimento de grande impacto, quando ele bate o pé no chão sem amortecimento.
Quem já brincou descalço na rua sabe bem como isso funciona: quando pulamos e caímos, apoiando primeiro o calcanhar no chão, nos machucamos justamente porque não usamos a musculatura da panturrilha e do quadríceps para gerar tensão e amortecimento ativo. Ou seja, geramos uma tensão muito abrupta sobre o tendão.
São movimentos como esse, executados de forma repetitiva, que desencadeiam os processos de tendinite patelar dentro da prática esportiva, especialmente no futebol.
A seguir, saiba como identificar se você pode estar sofrendo de tendinite patelar.
Quais são os sintomas mais frequentes da tendinite patelar
A tendinite patelar tem sintomas variados, sendo o mais comum uma dor localizada na frente do joelho, principalmente ao subir ou descer escadas. Outro sintoma frequente é sentir uma dor no início dos treinos que, à medida que o atleta aquece, vai diminuindo.
No futebol, a dor também pode ser sentida nos saltos, nos cabeceios, em uma mudança muito brusca de direção e, principalmente, no movimento de freio, que ocorre quando o jogador vai fazer, por exemplo, um contra-ataque: ele está correndo e, para mudar de direção, diminui a velocidade de uma forma abrupta. No jogador com tendinite patelar, esse é um dos momentos em que ele mais sente uma dor aguda e muito pontual na frente do joelho, que só piora com a tensão na região.
Ou seja, a dor da tendinite patelar é sentida quando o atleta está em movimento.
Essas são as duas principais queixas que ouvimos dos atletas que chegam à nossa clínica:
– dor no início do treino, quando eles ainda não fizeram o aquecimento e, portanto, o corpo está frio.
– dor nos movimentos de salto e freio, quando eles diminuem a velocidade abruptamente.
Apesar de ser mais comum em jogadores de futebol, a tendinite patelar também pode acometer atletas de outros esportes, como o tênis e o CrossFit, que são práticas desportivas onde os movimentos de freio e, eventualmente, os movimentos de salto, também ocorrem.
Qual a diferença entre tendinite patelar e condromalácia patelar?
A tendinite patelar e a condromalácia patelar são duas condições diferentes e frequentemente confundidas entre si devido à semelhança do sintoma, que é a dor na parte anterior do joelho.
Enquanto a tendinite patelar é uma inflamação do tendão provocada pela tensão excessiva no ligamento patelar, a condromalácia é um desgaste da articulação da patela com o fêmur.
É importante ressaltar que, apesar de normalmente surgirem isoladamente, algumas vezes elas podem estar associadas.
Como a patela desliza por cima do osso do fêmur, quando ela faz um trajeto de forma muito irregular, provoca um desgaste não só do tendão patelar, mas também da superfície articular do fêmur com a patela, provocando as duas condições simultaneamente: a tendinite e a condromalácia patelar.
Continue lendo para saber como é realizado o diagnóstico e qual o melhor tratamento para a tendinite patelar.
Como é feito o diagnóstico da tendinite patelar
Grande parte do diagnóstico é clínico, sem necessidade inicial de exames. Na maioria dos casos, o médico avalia a história do paciente e realiza exame físico detalhado. Exames de imagem apenas complementam a investigação.
Podemos dizer que o diagnóstico da tendinite patelar passa por 3 pontos principais:
– Análise da história do paciente – será o ponto de partida da avaliação médica. Como na tendinite patelar não há uma dor traumática, e sim uma dor que aparece de forma insidiosa, buscar a história do paciente e do que aconteceu com o seu joelho é fundamental para o diagnóstico.
Dor insidiosa é aquela de início discreto, que aumenta gradualmente e tende a piorar com atividades mais intensas, como treinos ou jogos.
A análise da história clínica permite ao médico correlacionar a piora da dor com o aumento da intensidade dos treinos.
– Exame físico do paciente – ao realizar o exame físico, o médico pode observar sinais importantes. Por exemplo, a região abaixo da linha da patela pode estar inchada, mais gordinha, como se houvesse uma bochecha no joelho. Observando de frente, pode-se notar duas “bolinhas” na lateral do tendão patelar. É a chamada gordura de Hoffa (ou hoffite se estiver inflamada), se estiver presente, pode ser um forte indício para o diagnóstico da tendinite patelar.
– Exames de imagem – a tomografia e a ressonância magnética são os exames mais frequentemente utilizados para diagnosticar a tendinite patelar. Nos exames pode-se notar um hipersinal no tendão patelar, ou seja, o acúmulo de líquido na região. Além disso, a ressonância magnética pode mostrar o intumescimento das fibras do tendão patelar, edema da gordura de Hoffa (Hoffite), dependendo do estágio da tendinite, outras alterações como a calcificação da tuberosidade anterior da tíbia ou do ápice da patela.
Como é o tratamento da tendinite patelar na fisioterapia esportiva
Para ilustrar como é o tratamento da tendinite patelar na fisioterapia esportiva vamos utilizar o caso do Daniel, um zagueiro que chegou à nossa clínica com todos os sintomas característicos.
Quando estava jogando, Daniel já sentia bastante dor durante o contra ataque, quando ele estava correndo para acompanhar o posicionamento do time. Mas era no momento em que ele tinha que voltar para a sua posição de zagueiro, quando ele precisava fazer um movimento rápido de recuperação para voltar à defesa, que ele sentia uma pontada na frente do joelho.
A dor para subir e descer escadas, um dos sintomas mais comuns em quem tem tendinite patelar, também foi relatada. Mas como ele não usava escadas com frequência, este era um sintoma que ele sentia em momentos muito específicos e, por isso, não chamava tanto a sua atenção.
Daniel já tinha tomado algumas iniciativas para amenizar a dor, como aplicar gelo no local e tomar anti-inflamatórios, o que ajudou momentaneamente. Mas quando ele nos procurou, ainda sentia bastante dor e desconforto.
Para ajudar na recuperação do Daniel e levá-lo de volta ao jogo, iniciamos nosso tratamento de 3 fases.
Continue lendo para saber como é cada etapa deste tratamento.
Primeira fase – Fase aguda – controle da dor e inflamação
A primeira fase do tratamento é direcionada para o controle de sintomas.
É interessante que o paciente mantenha um mínimo de preparação física. Portanto, se ele consegue fazer exercícios de baixa e de média intensidade sem dor, pode participar dos treinos táticos. Mas se mesmo ficando em pé ou fazendo atividades básicas ele sente dor, deve evitar os treinos a princípio.
Nesta etapa fazemos a drenagem linfática na região ao redor da patela, porque é bem comum que o joelho fique edemaciado e por isso mais sensível. O laser é utilizado para controlar os sinais inflamatórios e também usamos a eletroterapia para controlar a dor e o desconforto.
Uma prática muito importante nessa fase do tratamento são as isometrias.
Lembra que nós falamos que o tendão deve trabalhar como uma corda? Devemos aplicar uma tensão regular para essa corda entender qual é a direção das novas fibras que se formarão a partir do processo de cicatrização. As fibras foram machucadas, e aplicamos uma tensão regular, em isometria, para as células de cicatrização entenderem como elas devem se comportar.
O que são exercícios isométricos? São exercícios como o agachamento isométrico, em que você mantém a posição do agachamento parado, sem subir nem descer; os movimentos de quatro apoios sem apoiar o joelho no chão, como se fosse uma prancha; os movimentos de abdominal com a perna esticada como, por exemplo, o abdominal canivete e o abdominal infra ou V-up; e movimentos em que o joelho se mantém ou esticado ou dobrado, fazendo força sem gerar movimentos. Entendeu melhor assim?
Esse é o protocolo inicial padrão para o tratamento da tendinite patelar na Wolf Fisioterapia.
Segunda fase – Fase de reestruturação – fortalecimento e postura
A segunda fase é a chamada fase de reestruturação.
É uma etapa em que aplicamos exercícios com mais angulação, mas apenas em ângulos de proteção. O paciente começa a fazer exercícios em que consegue dobrar o joelho, como o agachamento, mas em uma angulação controlada, ou seja, acima dos 90° (acima da linha paralela entre o joelho e o quadril).
Exercícios que exigem um deslocamento agachado, como o siri, a caminhada lateral e a fundo deslizando também são utilizados bastante na clínica. São exercícios em que o paciente faz a angulação de uma forma protegida. Ele não faz nem movimentos rápidos demais nem movimentos muito amplos com o joelho.
É nessa fase também que começamos a expor o paciente aos movimentos esportivos. A condução de bola, a caminhada conduzindo a bola e a corrida no lugar – que expõe o atleta a uma velocidade mais semelhante a do esporte, porém sem dobrar e esticar os joelhos rapidamente – são exemplos de exercícios que usamos nessa fase de reestruturação e que começam a ser incluídos com o retorno ao esporte.
É uma etapa do tratamento em que trabalhamos com pouco impacto e com um foco maior no ganho de força muscular, para proteger o joelho.
Outro ponto importante, com o qual nos preocupamos muito na Wolf durante essa fase, é a reestruturação da postura: buscamos entender como o joelho está sendo usado para a aplicação de força no chão, seja para o salto, seja para a mudança de direção, seja para o movimento de freio.
O joelho está em uma posição que coincide com o meio do pé e o meio do quadril. O quadril, por sua vez, é o responsável por transferir todo o peso corporal que será aplicado sobre a perna. Por isso, é importante haver um alinhamento entre os ombros, o core, o quadril, o joelho e o pé.
Esse alinhamento é o que chamamos de postura, sendo um dos nossos principais focos durante as sessões de fisioterapia esportiva. Aplicamos exercícios para entender como está o alinhamento do quadril e como está o posicionamento da cintura quando o paciente fica em cima de uma perna só. Enfim, tentamos entender como ele se posiciona, como ele organiza o seu peso corporal e aplica a força para lidar com o impacto no chão.
No caso do Daniel, utilizamos movimentos de rotação da cintura baixa, ou bacia, que foram muito importantes para melhorar tanto o seu equilíbrio quanto o seu alinhamento postural e, assim, melhorar a aplicação de peso em cima de uma perna só.
E o que nós observamos enquanto ele fazia esses exercícios?
Quando ele fazia uma corrida no lugar, o skipping, e parava sobre uma perna só, a cintura dele ficava balançando para as laterais. Percebemos que ele não tinha muito controle sobre esse movimento, não importando quantas vezes ele o repetisse.
Isso mostrava que ele tinha uma dificuldade de controlar seu centro de gravidade e de antecipar o movimento da corrida e, naquele exercício principalmente, de antecipar a pausa em cima de uma perna só. Ou seja, tinha uma dificuldade de manter a postura correta, não conseguindo organizar o próprio peso e o alinhamento corporal para ficar sobre uma perna só.
Algumas pessoas chamam isso de equilíbrio, outras chamam de propriocepção. Aqui na Wolf chamamos de postura. Entender e colocar em prática esse conceito é fundamental durante o processo de reestruturação da postura.
Um resumo da primeira e segunda fases do tratamento
Na primeira fase, o foco do tratamento está voltado para o problema que o paciente tem no joelho e seus sintomas. Tratamos o edema, a inflamação, cuidamos da dor e do desconforto. Cessando a dor, ele é liberado para voltar às atividades do cotidiano.
Entramos então na segunda fase, quando ele não sente mais dor e pode voltar aos treinos. Para que ele volte ao esporte com segurança, fazemos um trabalho de fortalecimento muscular da perna e dos músculos posturais que sustentam o corpo.
Nessa fase, não olhamos apenas para o joelho, mas também para a forma como ele utiliza o seu corpo na prática do esporte. Se ele estiver utilizando de uma forma incorreta, ou seja, com uma postura incorreta, pode machucar o joelho. No caso do Daniel, a lesão no joelho aconteceu devido a um atraso do equilíbrio, que gerava um balanço na cintura que, por sua vez, forçava o joelho.
Em outras palavras, embora a gente olhe para o joelho na primeira fase do tratamento, porque temos que tratar os sintomas, isso não significa que a causa do problema esteja realmente ali. O joelho pode ser a consequência de uma falta de postura durante a execução dos movimentos, o que é visto e tratado na segunda fase do tratamento.
Imagine um atleta que pesa 90 kg e carrega cerca de 50 kg acima da cintura. Se esse peso é distribuído de forma irregular sobre a perna, movimentos como frear podem sobrecarregar o joelho.
É como frear um caminhão que está super carregado, mas com a carga solta. A caçamba vai ficar balançando e os freios terão dificuldade de aplicar a força necessária no chão para funcionarem corretamente. Porque a carga que está em cima do caminhão está solta e balançando.
Terceira fase – Fase de retorno ao esporte
Na terceira fase do tratamento aplicamos tanto a reestruturação postural quanto a reestruturação física do joelho no esporte. É quando o paciente começa a treinar exercícios mais específicos como a corrida, a aceleração e o freio, somados à mudança de direção, tanto para a frente, quanto para trás e para as laterais.
O objetivo é melhorar a aplicação de peso, ou seja, primeiro organizar melhor a carga que estava desamarrada na caçamba, que, na prática, é organizar melhor o peso corporal acima da linha da cintura, organizar o core, para somente então fazer o joelho e a perna trabalharem adequadamente, no caso do caminhão, a aplicação do freio nas rodas, pneus e no chão.
No caso do Daniel, trabalhamos ainda o cabeceio, uma queixa que não era tão forte no início, porque ele treinava poucas vezes ao longo da semana, mas que foi aparecendo ao longo do tratamento. Aplicamos, então, a reeducação da postura também no movimento de cabeceio.
Uma pergunta que você pode se fazer nesse momento é: como nós conseguimos simular esses movimentos do esporte dentro da sala de fisioterapia e fazer a reeducação postural?
Essa é uma das partes mais interessantes, pois nosso corpo se organiza utilizando padrões de movimento e dependendo da situação que criamos na sala da fisio, ele mostra a mesma resposta que mostra no campo.E essa é uma das partes mais motivadoras do nosso trabalho para a qual nos dedicamos bastante, que é prestar atenção aos detalhes, principalmente do peso corporal, e oferecer diferentes alternativas para os nossos pacientes que sejam aplicáveis de fato e não apenas palpites.
Prestar atenção no movimento certo
Para desenvolvê-lo, não precisamos simular efetivamente uma cobrança de lateral do início ao fim para que o nosso paciente faça um cabeceio enquanto observamos como ele se movimenta. O que nós precisamos de fato observar é como o joelho – e o corpo dele por inteiro – se comportam enquanto ele faz o movimento de sair e voltar para o chão. Ele consegue fazer esse movimento bem, sem barulho, de uma forma organizada e equilibrada?
Outro ponto muito importante dessa fase de retorno ao esporte, e que nós utilizamos com frequência na Wolf, é passar bastante lições de casa ao paciente. Ele deixa a sessão de fisioterapia com a recomendação de muitos exercícios semelhantes aos que são feitos no aquecimento da sua modalidade esportiva, para colocar em prática na beira do campo.
O objetivo é que ele saiba que existe uma forma diferente de se movimentar e, sobretudo, que ele se lembre disso não só durante o aquecimento, mas durante toda a sua prática esportiva.
Ou seja, na terceira fase do tratamento a clínica funciona como um laboratório, onde o paciente estuda a postura correta para se movimentar. Após aprender, ele recebe como lição de casa colocá-la em prática dentro de campo. Na sessão de retorno, verificamos se ele conseguiu executar direito ou não e fazemos os ajustes necessários.
Principais dicas
Uma das principais dicas que damos aos nossos pacientes é que eles precisam ter a sensação de segurança, a sensação de firmeza durante o movimento. Se eles estão se sentindo bem e seguros ao executá-lo, e percebem que conseguem um desempenho melhor, não há porque descartá-lo durante a prática esportiva.
No caso do Daniel, cuidamos do controle do centro de gravidade com exercícios ajoelhado no tatame e seguimos com movimento de pular e voltar para o step, para trabalhar a pliometria junto com o movimento do cabeceio. Também trabalhamos algumas mudanças de direção, pulando pelos lados do step, e a marcação com cone de 2 ou 3 passos laterais. Sempre focando na qualidade do movimento e observando se ele estava firme, se estava bem equilibrado e se ele conseguia fazer uma boa aplicação de força contra o chão.
Porque a terceira fase do tratamento é tão importante
A terceira fase é muito importante para evitar o que chamamos de tentativa e erro: o paciente faz 10 sessões de fisioterapia, o joelho melhora, ele volta a jogar, o joelho piora novamente e assim sucessivamente.
O principal objetivo da terceira etapa é que isso deixe de acontecer. E isso só é possível quando o retorno ao esporte é feito de uma forma bem estruturada, levando em conta dois fatores principais: a exposição gradativa à carga de treino e, principalmente, as correções posturais adequadas, ou seja, o tratamento da causa raiz do problema.
Se você sabe que a carga do caminhão está solta na caçamba, não tem porque você continuar rodando com o caminhão sem antes amarrá-la, certo? Se você fizer isso, a carga vai continuar atrapalhando os freios e o desempenho do caminhão na estrada. Então por que você vai voltar aos treinos sem antes tratar adequadamente sua postura para não sobrecarregar o joelho?
Por isso, o foco da fase de retorno ao esporte é tratar a causa. No caso do Daniel, tratamos o que estava deixando a sua cintura muito solta, com exercícios de core e quadril em exercícios de equilíbrio para aplicação de força no chão. Assim, melhoramos a absorção de impacto e o devolvemos ao esporte de uma forma segura e adequada.
Na fisioterapia esportiva, a exposição gradual aos treinos e as correções posturais assertivas são a base fundamental de um bom retorno ao esporte. Quando resolvemos a causa, a tendência é que o paciente não volte mais. Pelo menos não com o mesmo problema, dando um fim ao ciclo de tentativa e erro.
Qual é o tempo de recuperação da tendinite patelar na fisioterapia esportiva
A primeira fase do tratamento, correspondente ao período agudo, geralmente tem duração de 2 a 4 semanas.
No caso do paciente Daniel, atleta com histórico de cinco anos de prática esportiva e rotina de treinos intensos, essa etapa foi concluída em aproximadamente duas semanas, o que favoreceu a recuperação inicial.
A segunda fase, denominada fase de reestruturação muscular, ocorre entre 4 e 12 semanas. Nesse período, busca-se restabelecer a força, o equilíbrio e a estabilidade da musculatura envolvida.
A terceira fase, de retorno ao esporte, varia de 12 a 18 semanas e deve ser conduzida de forma progressiva. O retorno às atividades depende da gravidade da lesão, da resposta clínica e da condição física do paciente. Em alguns casos, o atleta pode retomar parte dos treinos entre o primeiro e o quarto mês após o início do tratamento.
As fases de reestruturação e retorno podem ocorrer simultaneamente, com liberação parcial para atividades controladas em campo, como exercícios táticos e cobranças de bola parada.
Em síntese, o tempo total de reabilitação é variável e determinado pelo preparo físico, consciência corporal e capacidade funcional do atleta em transferir os ganhos da fisioterapia para o ambiente esportivo.
Conclusão
O bom resultado no tratamento da tendinite patelar depende, sobretudo, de uma boa avaliação inicial do atleta. Tanto uma boa avaliação médica, que olha para o contexto do seu esporte, do seu joelho, do seu estado clínico, que considera a sua idade, a sua condição física e solicita os exames de imagem. Quanto uma boa avaliação fisioterapêutica, que faz um bom planejamento da sua reabilitação.
Nós sempre destacamos o quanto a primeira sessão de fisioterapia é a mais importante do tratamento, porque é durante essa sessão que planejamos todo o processo terapêutico, desenhando, do início ao fim, a sua reabilitação.
Algumas pessoas podem questionar: “Mas 4 meses não é muito tempo para tratar o joelho? Não existe um tratamento mais rápido?”
O problema é que tratamentos muito rápidos não irão abordar o que precisa ser abordado, como a sensação de insegurança dentro do campo, a sensação de que os passos estão atropelados dentro de campo e, principalmente, não irão abordar e tratar a causa raíz do problema.
Para tratar a tendinite patelar de uma forma definitiva, com resultados efetivos e de longo prazo, evitando que o problema retorne, a base fundamental será sempre uma boa avaliação e um bom planejamento do processo terapêutico.
A Clínica Wolf Fisioterapia, localizada no Brooklin, em São Paulo, é especializada em Fisioterapia Esportiva. Clique aqui para agendar sua sessão de avaliação com nossa equipe ou venha nos visitar e conhecer de perto nosso espaço.
Cristyan Shimamoto – CREFITO-3: 293897-F
Fisioterapeuta graduado pela Universidade de São Paulo (USP) e especializado em Esporte e Exercício pelo HCFMUSP.
Perguntas Frequentes
O que é tendinite patelar?
A tendinite patelar, também conhecida como “joelho de saltador”, é a inflamação do ligamento patelar, responsável por fazer a ligação entre a patela (um osso móvel localizado à frente do fêmur) e a tíbia, na região anterior do joelho.
Quais são os sintomas da tendinite patelar?
A tendinite patelar tem sintomas variados, sendo o mais comum uma dor localizada na frente do joelho, principalmente ao subir ou descer escadas. Outro sintoma frequente é sentir uma dor no início dos treinos que, à medida que o atleta aquece, vai diminuindo. No futebol, a dor também pode ser sentida nos saltos, nos cabeceios, em uma mudança muito brusca de direção e, principalmente, nos movimentos de freio.
Como é feito o diagnóstico da tendinite patelar?
Grande parte do diagnóstico é feita clinicamente na maioria das vezes pelo médico, que vai avaliar a história do paciente e do seu joelho, fazer um exame físico minucioso e solicitar exames de imagem como a tomografia e a ressonância magnética.
Existe diferença entre tendinite patelar e condromalácia patelar?
Sim. Embora ambas causem dor na região anterior do joelho, são condições diferentes. A tendinite é a inflamação do tendão patelar, enquanto a condromalácia é um desgaste da articulação da patela com o fêmur.
Como é o tratamento da tendinite patelar na fisioterapia esportiva?
Na Wolf Fisioterapia, nós dividimos o tratamento em 3 fases: na primeira etapa, a fase aguda, o foco é o tratamento dos sintomas, como a redução da dor e do edema. Segunda fase, que chamamos de fase de reestruturação, trabalhamos o fortalecimento muscular, o desenvolvimento do equilíbrio e a adequação da postura. Na terceira e última fase, o paciente começa a ser exposto aos exercícios mais intensos da sua prática esportiva, além de iniciar o seu retorno ao esporte. É bom destacar, no entanto, que essas 3 fases nem sempre são totalmente separadas. A segunda e a terceira fase, por exemplo, podem ocorrer de forma simultânea, dependendo da gravidade dos sintomas e da condição física do paciente.
Quanto tempo dura o tratamento? Qual é o tempo de recuperação da tendinite patelar?
A primeira fase costuma levar entre 2 a 4 semanas. A segunda fase, que é o tempo de reestruturação, o tempo necessário para que o músculo fique mais forte, leva de 4 até 12 semanas. A terceira e última fase, que é a fase de retorno ao esporte, costuma levar entre 12 a 18 semanas.
Eu nunca senti dor no joelho. Por que comecei a sentir agora? Será por causa da idade?
A idade influencia sim, principalmente na demora para adquirir um bom condicionamento físico. Mas tudo o que abordamos neste ebook se aplica tanto a jovens de 12, 15 anos (nós temos visto bastante jovens nessa idade com problemas no joelho), quanto às pessoas mais velhas. Além disso, quando uma pessoa tem uma má organização da postura, é mais desequilibrada, a tendência é que esse problema se agrave com o passar dos anos.
Na fisioterapia esportiva, nós corrigimos os desarranjos posturais e a falta de equilíbrio para melhorar tanto a força muscular quanto a absorção de carga do tendão. Então pode ter relação com a idade? Sim, pode. Mas a causa fundamental da dor no joelho não será somente a idade.
A dor no joelho pode estar associada à dor do crescimento?
Sim, às vezes as duas situações podem estar associadas. Porque quando uma criança cresce muito rápido, o joelho sofre com os encurtamentos musculares. Mas a tendinite patelar não é causada pelo crescimento propriamente dito. Uma criança entre 10 e 15 anos tem um estirão. De repente, ela tem que aprender a lidar com 10, 15 kg a mais do que ela estava acostumada e tem que aprender a equilibrar esse peso. Nesse caso, a tendinite surge devido à essa aplicação de força pelo aumento de peso. Mas essa pode, sim, ser uma das causas indiretas da tendinite patelar.
O tênis tem influência no surgimento da tendinite patelar?
Sim. Os tênis que têm muito amortecimento perdem a função de estabilizar o pé e, por isso, há uma grande chance de piorar tanto o equilíbrio quanto a absorção do impacto. Os tênis de maratonistas têm, em geral, muito amortecimento e, pela minha experiência na prática clínica, eles podem levar as pessoas a terem menos equilíbrio, principalmente nos exercícios mais estáticos e nos exercícios onde há um maior controle da aplicação de força no chão.
O tênis ideal é aquele que entrega estabilidade e firmeza quando apoiamos o pé no chão e que nos permite perceber quando esse impacto se dá de uma forma muito dura. Em se tratando de chuteiras, existem alguns modelos que têm um pouco de amortecimento, mas a grande maioria tem menos. Já os tênis sem drop, como os tênis de skatistas, podem ser bons para quem corre pequenas distâncias, como no CrossFit, quando você consegue controlar e perceber melhor a aplicação de impacto no chão.
Os tênis com maior amortecimento, portanto, são mais indicados para quem corre longas distâncias, como os corredores de 21 e 42 km. Para o futebol, o mais indicado seria um tênis de corrida normal, principalmente durante a preparação física.
O uso de joelheiras ajuda a melhorar a dor no joelho?
Não. Principalmente em relação a esse movimento que estamos abordando de bater o pé no chão, que gera um impacto que vai chegar ao joelho, a joelheira não ajuda porque não melhora a coordenação nem o equilíbrio. Ela não vai amarrar “a carga que está solta na caçamba do caminhão”. Portanto, as joelheiras não ajudam na tendinite patelar. Existe uma técnica muito específica, que é a aplicação de tensão em cima do tendão patelar para aliviar os sintomas, mas que também não trata o problema.
Quais são os melhores exercícios para a tendinite patelar?
Os melhores exercícios para a tendinite patelar são aqueles que ensinam você a absorver o impacto, que ensinam você a se equilibrar e usar o joelho de uma forma adequada. Exercícios como se equilibrar em cima de uma perna só, salto e contra salto (que são muito utilizados na preparação física) e salto em cima de uma perna só são muito bons para serem usados tanto na preparação física quanto no tratamento da tendinite patelar.
Quais são os piores exercícios para a tendinite patelar?
Até a segunda fase do tratamento, qualquer exercício que promova uma maior angulação do joelho, como o agachamento que vai além dos 90°, ou que ultrapassa a linha paralela entre o joelho e o quadril, é considerado ruim.
Todas as dores são ruins? Ou existe alguma dor que podemos dizer que é boa?
A única dor boa é a que sentimos no músculo quando ele está sendo estimulado. É uma dor que traz aquela sensação de queimação muscular na coxa ou na panturrilha. Essa é uma dor que podemos sustentar. Por outro lado, a dor de pontada, a dor que parece um beliscão ou que é sentida dentro do joelho são consideradas dores ruins.
O que é melhor? Compressa de água quente ou compressa de água fria?
Na primeira fase, a fase inflamatória, o melhor é a aplicação de compressa de água fria ou de gelo durante 20 minutos. Alguns estudos dizem que o gelo atrapalha a recuperação da tendinite patelar, o que é verdade, porque ele retarda o efeito inflamatório. Mas é justamente na fase aguda que mais se precisa do alívio dos sintomas para seguir a rotina diária. Então, quando você está com o joelho quente, inflamado e inchado, vale a pena usar o gelo para aliviar esses sintomas. Mas é bom lembrar que esse não será o tratamento da tendinite patelar. O tratamento consiste em fazer exercícios adequados nos tempos adequados. Já a compressa de água quente nunca será boa nesse caso. Elas são indicadas somente para relaxar a musculatura.
Eu posso continuar jogando bola se tiver tendinite patelar?
Durante a fase aguda, o ideal é se afastar dos exercícios de maior intensidade. Mas dependendo da gravidade dos sintomas, você pode voltar a treinar desde o primeiro mês após o início do tratamento, desde que tenha um bom preparo físico e um bom nível de aprendizado dos movimentos que são ensinados na fisioterapia.
Como eu posso curar a tendinite patelar rápido?
Não existe uma forma rápida de curar a tendinite patelar. Soluções rápidas não irão abordar o que precisa ser abordado, como a sensação de insegurança dentro do campo, a sensação de que os passos estão atropelados dentro de campo e, principalmente, não irão abordar e tratar a causa raíz do problema. Para tratar a tendinite patelar de uma forma definitiva, com resultados efetivos e de longo prazo, evitando que o problema retorne, a base fundamental será sempre uma boa avaliação e um bom planejamento do processo terapêutico.
Quais são os principais exercícios de fortalecimento para a tendinite patelar?
Exercícios que exigem um deslocamento agachado, como o siri, a caminhada lateral e a fundo deslizando são ótimos exercícios para o fortalecimento muscular de forma protegida, ou seja, sem uma maior angulação do joelho. No caso de jogadores de futebol, exercícios como a condução de bola, a caminhada conduzindo a bola e a corrida no lugar – que expõe o atleta a uma velocidade mais parecida com a do esporte, porém sem angulação – são ótimos exemplos de exercícios que usamos nessa fase de fortalecimento.
Tenho tendinite patelar, eu preciso operar?
A tendinite patelar não tem uma indicação clara de cirurgia. A não ser nos casos de extremo difícil controle, a maioria dos casos é tratada da forma conservadora, ou seja, com fisioterapia, medicação e controle de carga.
Tem como prevenir a tendinite patelar?
Sim. A prevenção passa pelo fortalecimento muscular, melhora do equilíbrio, correção da postura e o uso de tênis adequados para a sua prática esportiva.





