Corredores são mais suscetíveis a lesões nessa região, como a tendinite no quadril. Essa condição pode se desenvolver devido a vários fatores, como excesso de carga, movimentos repetitivos ou a execução incorreta dos movimentos.
A boa notícia é que esse problema, quando diagnosticado e tratado da forma correta, tem grandes chances de reabilitação, devolvendo a mobilidade e permitindo o retorno à prática esportiva.
Se você quer saber o que é tendinite de quadril, quais os sintomas e causas, leia a matéria: Tendinite de quadril: o que é e por que afeta praticantes de corrida.
Nesta matéria vamos explicar qual é o melhor tratamento de tendinite de quadril em corredores e qual o tempo de recuperação.
Tratamento de tendinite no quadril
Como em toda recuperação de uma lesão, o tratamento vai ser dividido em etapas, que vão se desenvolvendo conforme a evolução do paciente, são elas:
– 1ª fase: Tratamento da dor e inflamação
– 2ª fase: Tratamento para reestruturação da região lesionada
– 3ª fase: Tratamento da causa do problema e retorno ao esporte com segurança
Para entender melhor cada fase do tratamento, contaremos a história de um corredor maratonista que recebemos em nossa clínica diagnosticado com tendinite de quadril, que chamaremos de Márcio.
Embora ele já sentisse alguns sintomas leves há mais ou menos dois anos, como uma dor na região de trás do quadril, na inserção dos músculos isquiotibiais, não era nada que o impedisse de treinar ou de correr.
Mas a dor piorou após a última maratona de Buenos Aires, ocasião em que, ao querer quebrar o recorde, exigiu mais de si mesmo e começou a sentir uma dor muito forte.
Marcio procurou um ortopedista, fez uma ressonância magnética e foi diagnosticado com tendinite de quadril.
Quando nos procurou ele estava com bastante dificuldade para executar atividades básicas do dia a dia, como caminhar, dirigir e até mesmo ficar sentado. Começamos o tratamento para controle da dor e inflamação.
1ª fase – Tratamento da dor e inflamação
É o tratamento da fase aguda, direcionado principalmente para o alívio dos sintomas.
É uma fase bastante incômoda, de muita dor e que causa muitas restrições nas atividades do dia a dia.
Nesta fase trabalhamos 3 focos: o tendão, o músculo e a articulação:
Tratamento com foco no tendão
Essa é uma fase em que o tendão está inflamado. Os principais procedimentos utilizados são o laser, um dos mais indicados clinicamente, porque estimula a cicatrização do tecido da região lesionada. E o ultrassom, que pode ser associado ao uso de medicamentos anti-inflamatórios. Quando utilizados em conjunto, o ultrassom facilita a absorção da medicação
Tratamento com foco muscular
Para tratar os músculos da região lesionada são aplicados procedimentos como: a liberação miofascial, que alivia as tensões através de uma massagem mecânica; o agulhamento a seco, usado para tratar as contraturas musculares; o ultrassom, usado para relaxar a musculatura que está muito tensionada; e a pistola de massagem, que ajuda a aliviar as dores musculares.
Tratamento com foco articular
Por causa da dor, o paciente tende a controlar o movimento da articulação do quadril, diminuindo a amplitude de movimento da região. Nessa etapa do tratamento estimulamos movimentações de maior amplitude que não geram dor, como os alongamentos dinâmicos.
O objetivo é ajudar o paciente a recuperar a amplitude de movimento e diminuir a restrição de mobilidade. Também trabalhamos para diminuir os movimentos de compensação que ocorrem quando, ao sentir dor de um lado do quadril, o paciente joga seu peso corporal para outro lado, causando dor na lombar, no calcanhar e assim por diante.
Quanto tempo demora o tratamento da fase aguda?
O tratamento da fase aguda demora, aproximadamente entre 2 a 6 semanas. As dores, inflamação e mobilidade vão melhorando gradualmente.
2ª fase –Tratamento para reestruturar a região lesionada
Superada a fase aguda e inflamatória, o paciente já consegue retomar as atividades básicas do cotidiano com menos influência da dor.
Ele pode voltar a fazer musculação, voltar a caminhar ou fazer outras atividades do seu dia a dia sem sentir um grande incômodo ou restrições de movimento.
Essa fase, que chamamos de fase subaguda ou intermediária, é uma etapa de reestruturação, em que iniciamos um trabalho de fortalecimento muscular através de exercícios de baixa intensidade.
O objetivo agora é estimular as células de cicatrização e reestruturar a região lesionada.
Nessa fase o paciente pode voltar a treinar a corrida, porém com um volume de treino controlado.
Para um atleta, sabemos que é muito difícil ficar totalmente sem treinar. Por isso, quando chegamos a essa fase dizemos que ele não está impedido de treinar, mas sim de fazer um grande esforço.
Sugerimos um treino intervalado, que consiste em fazer uma corrida curta seguida de uma caminhada durante 30 minutos. Ele não deixa de correr, mas também não estressa uma estrutura que está machucada e sensível.
Essa é uma parte bem importante do tratamento porque mantém o paciente condicionado fisicamente. Isso impede que, após certo tempo de reabilitação, ele ainda tenha que recuperar o seu condicionamento físico.
Quanto tempo demora o tratamento da fase de reestruturação?
Essa fase vai começar entre 2 a 8 semanas da lesão, onde o paciente começa a retomar sua rotina.
Fizemos um e-book com as perguntas mais frequentes sobre tendinite de quadril, como:
- Quem tem tendinite de quadril precisa operar?
- Infiltração é bom para tratar a tendinite de quadril?
- Qual melhor tênis para quem tem tendinite de quadril?
Se quiser saber as respostas, baixe o e-book: “Saiba o que é a tendinite de quadril, uma das lesões mais comuns em praticantes de corrida”
3ª fase- Tratar a causa do problema e o retorno ao esporte com segurança
A terceira etapa é a fase de retorno ao esporte, quando avaliamos como o paciente está usando o quadril dentro do esporte que ele pratica que, neste caso, é a corrida.
Avaliamos os seus movimentos e quais são as alavancas que ele usa durante o movimento cíclico de correr. A avaliação da funcionalidade envolve a interação física do peso corporal, aceleração, freio, impacto e todos os componentes relacionados ao movimento da corrida.
Em outras palavras, identificamos quais são os pontos fracos dele na prática da corrida.
Se imaginarmos que quando corremos, em algum momento ficamos em cima de uma perna só e que esse movimento acontece repetidamente, fica mais fácil de entender.
Nesse momento há uma grande exigência da região do quadril, porque mais da metade do nosso peso corporal está acima da linha da cintura e fica concentrado em somente um lado do corpo.
É nessa fase que vamos entender como o paciente controla todas essas alavancas.
O tendão já está melhor, a força da musculatura já foi recuperada e a região reestruturada. O foco agora é identificar a causa do problema, ou seja, o que causa a sobrecarga no quadril, a organização do movimento, as ativações musculares e o equilíbrio.
Identificada a causa do problema, trabalhamos para melhorar a biomecânica do Márcio.
Quais os exercícios para tratar tendinite de quadril?
No caso do Márcio, existia, por parte dele, uma dificuldade muito grande de arranjar a cavidade abdominal – onde os órgãos vitais ficam guardados – que é chamado por muitos de core (centro em inglês).
Ele tinha a tendência de contrair a parede do abdômen de uma forma concentrada na altura das costelas, ou da boca do estômago, perdendo a uniformidade da aplicação de peso, o que dificulta a regularidade da aplicação de peso no chão.
Para corrigir essa uniformidade do tronco, primeiro trabalhamos exercícios com uma postura mais baixa, deitado de barriga para cima, onde não havia a necessidade de se equilibrar, dando maior atenção ao abdômen ou o core.
Aplicamos exercícios gradativamente mais difíceis, envolvendo o movimento das mãos e das pernas com base na respiração e controle do core.
Ativando do core
Na maioria dos casos que atendemos a ativação correta do core não é um problema relacionado à força. Portanto, normalmente focamos na ativação dos músculos para que estes trabalhem em harmonia durante a corrida.
Em um segundo momento aplicamos exercícios em uma postura um pouco mais complexa, que foi a postura ajoelhada. Pedimos para ele, por exemplo, realizar um avanço, que consiste no movimento de dar um passo à frente e retornar.
Mas no caso deste paciente pedimos uma pausa com o joelho no chão, para verificar se ele estava ativando corretamente a sinergia da contração dos músculos do glúteo e do core.
Este era um movimento que o incentivava a dar uma ênfase maior no movimento da bacia junto com o movimento do quadril, controlando o seu eixo corporal.
Quando ele conseguiu controlar bem todos esses movimentos nas posturas mais baixas, aumentamos a dificuldade dos exercícios.
Foram aplicados exercícios como pular em uma perna só para cima de um degrau. Nesse exercício ele precisava controlar o movimento das pernas, o impacto do quadril sobre o pé, a contração do abdômen, a respiração e o quadril, não deixando a região solta demais.
Ele pôde voltar a correr normalmente quando chegou à terceira fase do tratamento?
Sim. Na terceira fase ele já estava aumentando o seu volume de corrida, passando de 5 km para 7 km, depois para 10 km, aumentando as distâncias e a velocidade das corridas.
Evoluindo gradativamente enquanto ganhava uma estrutura melhor e um movimento mais harmônico. E sempre recebendo a orientação de respeitar seus limites e não se impor um volume de treino que pudesse machucá-lo novamente.
Na prática, o que aconteceu durante a fase 3 no que se refere ao retorno ao esporte, foi liberá-lo para a corrida de uma forma monitorizada, com orientações sobre o que ele podia ou não podia fazer.
Ele treinava, voltava para a fisioterapia, trocávamos informações e fazíamos ajustes até que ele estivesse totalmente apto a treinar sozinho.
É uma fase em que a fisioterapia atua em paralelo com o treino e a prática da corrida, ambos se complementando.
Entenda a importância da fase 3 do tratamento e porque ela não deve ser ignorada
É bastante comum algumas pessoas abandonarem o tratamento na fase 2.
Isso acontece porque a fase inflamatória é controlada, a dor cessa, a região lesionada é fortalecida e elas conseguem retornar às atividades do dia a dia.
Com um quadro aparentemente normal, a volta aos treinos parece ser possível.
E tem início uma situação que chamamos de ciclo de tentativa e erro: elas correm um pouco e não sentem dor. Como não doeu, correm um pouco mais. Continuam não sentindo dor e resolvem correr mais um pouco, até que se machucam novamente, voltando à estaca zero.
A fase 3 é muito importante porque ajuda a evitar uma reincidência no problema e até mesmo o surgimento de novas lesões.
É justamente nessa fase que observamos as relações do peso corporal, a aceleração de movimento e o impacto, principalmente no quadril, que podem realimentar a tendinite e que precisarão de uma correção direcionada e bem estruturada para evitar a reincidência.
No caso que relatamos até aqui, o fisioterapeuta identificou que precisava melhorar a ativação correta e uniforme da parede abdominal, o controle do eixo corporal e a sustentação do quadril dentro de um eixo de movimento.
A fisioterapia esportiva trabalha identificando a causa do problema e depois ajustando o movimento e a postura do atleta de forma ativa, ou seja, através dos exercícios que ensinam a correr melhor.
Os exercícios parecem simples, mas a diferença é o conhecimento associado aos exercícios com objetivo de melhorar a postura do atleta e evitar a tendinite no quadril.
Com ajustes posturais, além de tratar o problema, o corredor pode melhorar o rendimento, aproveitar melhor a força e potencialmente aprimorar a performance.
Tratamento da tendinite de quadril – quanto tempo leva para recuperação?
O tratamento da tendinite de quadril pode variar entre 2 a 6 meses.
São vários os fatores que podem impactar nesse processo e fazer com que o tratamento seja mais ou menos longo, como a experiência do paciente como esportista, o seu nível de consciência corporal e também a forma com ele vai aderir ao tratamento que está sendo proposto.
No caso do nosso paciente “Márcio”, por se tratar de um atleta experiente, que já corre há 15 anos, que tinha o que chamamos de controle proprioceptivo (um bom controle do próprio corpo) e que tinha facilidade de colocar as orientações que recebia em prática, o tratamento durou 3 meses.
E o melhor de tudo é que, após finalizar o tratamento, ele voltou a correr maratonas sem sentir dor.
Após 2 anos correndo com restrições devido a leves dores, um evento traumático o trouxe até a Wolf Fisioterapia. E após o tratamento que durou 3 meses, conseguiu superar o problema e ficou melhor! Voltou a correr maratonas sem sentir dor!
Conclusão
O tratamento envolve alívio da dor, fortalecimento da região e melhoria da amplitude dos movimentos.
Mas não pode nem deve se resumir a isso.
A solução só será completa após identificarmos a causa real, geralmente ligada a um padrão de movimento inadequado que sobrecarrega a articulação.
Nesta fase do tratamento, direcionaremos o foco para outras áreas do corpo, como o core, e para ajustes nos movimentos de corrida.
Por isso a fisioterapia esportiva é uma peça fundamental nesse processo, ajudando o paciente não somente a recuperar a mobilidade, como também a confiança nos seus movimentos.
Bem orientado, o paciente pode voltar gradualmente às suas atividades cotidianas e à prática do esporte, sem aquele medo constante de se machucar novamente.
Além disso, a fisioterapia evita o ciclo de tentativa e erro, prevenindo o agravamento da lesão por falta de orientação adequada.
Lembre-se que não existe uma fórmula mágica.
O fortalecimento muscular e a reeducação dos movimentos, com acompanhamento especializado, são essenciais para resolver o problema no longo prazo.
Resumindo, o tratamento da tendinite de quadril exige uma visão integrada do corpo, além da reeducação da postura e do movimento.
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